Em abril de 1971, na cidade inglesa de Orpington, nas proximidades de Londres, começou um grande movimento político que mudaria para sempre a história dos rhomá – o primeiro Congresso Mundial Romani. Este evento foi de suma importância porque foi a primeira vez no mundo em que líderes rhomá se reuniram, vindos de vários países diferentes e assistidos por autoridades políticas internacionais do mundo não-cigano, com o objetivo de discutir a nossa história, estabelecer a nossa identidade sócio-política e projetar metas para melhorar as condições de vida dos povos rhomá, espalhados pelo mundo.
Neste grande congresso, alguns dos nossos símbolos políticos mais importantes foram definidos – a bandeira e o hino rhom, para o qual foi escolhida a canção Djelem Djelem, do rhom de origem sérvia Zarko Jovanovic. Zarco, que faleceu em 1985 (tavelerto), era sobrevivente de nada menos que três campos de concentração, em que foi prisioneiro durante a Segunda Guerra Mundial. Djelem, Djelem fala, desta maneira, dos horrores vividos pelos rhomá na guerra, que ele conhecia bem de perto, mas também trás uma mensagem de superação, união e esperança no futuro.
Mais tarde, em 1990, durante o 4º Congresso Mundial Romani, que aconteceu na cidade de Serock, na Polônia, o dia 8 de abril foi escolhido como International Roma Day (Dia Internacional dos Rhomá). O motivo – foi justamente nesta data que havia começado, dezenove anos atrás, o 1º Congresso Mundial Romani. Mais uma curiosidade sobre o 1º Congresso Mundial Romani é que, ao contrário do que se diz por aqui, em terras tupiniquins, ele não foi presidido pelo rhom Yul Brynner (que, diga-se de passagem, nem podemos dizer com certeza se era rhom ou não), mas pelo boyásh argeliano Vanko Rouda. Yul Brynner estava presente no evento, mas apenas como ouvinte.
O Dia Internacional dos Rhomá, que se comemora todos os anos no dia 8 de abril, é, portanto, uma data política, relacionada a luta romani por visibilidade e direitos. É tempo de resgatarmos a nossa história e, portanto, revisitarmos as agruras dos nossos antepassados nas inúmeras perseguições sofridas ao longo do tempo – destacadamente o Porajmos, no qual foram assassinados pelo regime nazista cerca de 500.000 rhomá. É tempo de pensarmos, principalmente, no que queremos construir para o nosso futuro, na expectativa que os horrores do passado jamais se repitam.
Nesta data, rhomá do mundo inteiro costumam procurar um rio, antigo símbolo da vida e da transição da vida para a morte, e colocar flores em suas águas. Fazemos isso em memória dos que vieram antes de nós e padeceram simplesmente por terem a ousadia de serem quem eram – rhomá. Fazemos isso em memória dos que caíram no Porajmos, para que tenham certeza de que não serão esquecidos. Fazemos isso por nós, para repetir a nós mesmos que não deixaremos acontecer de novo.
Por fim, apesar desse costume ter muitos aspectos de um culto aos antepassados, esta não se trata de uma data religiosa. Não foi feita para celebrar santos, deuses ou espíritos de nenhuma vertente espiritualista, de nenhuma liturgia. É uma data política, instituída pela memória dos rhomá, para lembrar a nossa história, a nossa existência, a nossa participação no mundo e nossa luta por dignidade e respeito.
“Opre Rhomá, si bakht akana! Aven mansa sa lumnyake Rhomá o kalo mui thai e kale yakha. Kamav len sar e kale drakha!”
Importante contribuição para a compreensão dos processos históricos que levaram à criação do Dia Internacional dos Rhomá. Muito bom, Mikka!