Dentre as coisas que ficaram decididas no primeiro Congresso Mundial Romani, realizado em 1971, está o hino romani. A letra da canção, que aqui no Brasil conhecemos como Djelem, Djelem, foi composta pelo rhom de origem sérvia Zarko Jovanovic, que então a colocou em uma melodia tradicional no ano de 1949.
Zarko Jovanovic experimentou os horrores do Porajmos em sua própria carne e alma. Ele foi prisioneiro em três campos de concentração diferentes. Sobreviveu, mas, ao final da guerra, havia perdido quase toda a sua família.
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Todo esse sofrimento está expresso, em forma de lamento, na letra de Djelem, Djelem, que foi escolhida justamente por ilustrar um quadro fiel do horror não apenas da perseguição durante a Segunda Guerra Mundial, mas de toda a perseguição, discriminação e preconceito que os rhomá sofreram ao longo de sua história.
Diz-se que os rhomá são mestres na arte de esquecer, e, de fato, reconhecemos o quanto é importante deixar a dor passar para que se possa continuar vivendo. Djelem, Djelem, entretanto, é um apelo à memória, porque algumas vezes é preciso lembrar para não deixar acontecer de novo.
Passados mais de meio século da composição original, Djelem, Djelem já ganhou um sem-número de versões alternativas. O título da canção também apresenta variações e sofreu adaptações em lugares diferentes para se adequar à ortografia local e ao dialeto romani falado pelas diversas comunidades de rhomá. Alguns exemplos de títulos alternativos são Opre Roma, Romale Shavale, Jelem, Jelem, Dzelem, Dzelem, etc.. O próprio autor, em uma entrevista, certa vez intitulou a música como Opre Roma.
O hino romani, assim como a bandeira, é marca de identidade e, principalmente, da história do povo rhom, assim como todos os hinos nacionais e todas as bandeiras são marcas indeléveis da identidade e da história de seu povo. Mas, assim como a bandeira, o hino romani vem sendo fetichizado desavisadamente por pessoas de certos segmentos artísticos e religiosos populares do Brasil.
Já tive o desprazer de assistir, em vídeos na Internet, o nosso hino sendo vulgarmente dançado, com direito a muitas batidas de saia, como se fosse uma música sensual qualquer. Ora, para não falar do evidente mau gosto da sensualidade desnecessária e fora de contexto em uma canção que fala do Porajmos, acredito que qualquer pessoa com o mínimo senso de cidadania sabe que HINOS NÃO SE DANÇAM. Tente imaginar o absurdo que seria uma apresentação de, por exemplo, lambada ao som do hino nacional brasileiro.
DJELEM, DJELEM
Clique aqui e ouça a canção na voz inigualável e inesquecível da grande intérprete rhomie Esma Redzepova, que, lamentavelmente, nos deixou em dezembro de 2016. Tavelerto.
Clique aqui e ouça o Hino Romani na voz de seu compositor, o próprio Zarco Jovanovic. Tavelerto.