O Hino Cigano

Dentre as coisas que ficaram decididas no primeiro Congresso Mundial Romani, realizado em 1971, está o hino romani. A letra da canção, que aqui no Brasil conhecemos como Djelem, Djelem, foi composta pelo rhom de origem sérvia Zarko Jovanovic, que então a colocou em uma melodia tradicional no ano de 1949.

Zarko Jovanovic experimentou os horrores do Porajmos em sua própria carne e alma. Ele foi prisioneiro em três campos de concentração diferentes. Sobreviveu, mas, ao final da guerra, havia perdido quase toda a sua família.

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O grande Zarco Jovanovic, falecido em 1985. Tavelerto.

Todo esse sofrimento está expresso, em forma de lamento, na letra de Djelem, Djelem, que foi escolhida justamente por ilustrar um quadro fiel do horror não apenas da perseguição durante a Segunda Guerra Mundial, mas de toda a perseguição, discriminação e preconceito que os rhomá sofreram ao longo de sua história.

Diz-se que os rhomá são mestres na arte de esquecer, e, de fato, reconhecemos o quanto é importante deixar a dor passar para que se possa continuar vivendo. Djelem, Djelem, entretanto, é um apelo à memória, porque algumas vezes é preciso lembrar para não deixar acontecer de novo.

Passados mais de meio século da composição original, Djelem, Djelem já ganhou um sem-número de versões alternativas. O título da canção também apresenta variações e sofreu adaptações em lugares diferentes para se adequar à ortografia local e ao dialeto romani falado pelas diversas comunidades de rhomá. Alguns exemplos de títulos alternativos são Opre Roma, Romale Shavale, Jelem, Jelem, Dzelem, Dzelem, etc.. O próprio autor, em uma entrevista, certa vez intitulou a música como Opre Roma.

O hino romani, assim como a bandeira, é marca de identidade e, principalmente, da história do povo rhom, assim como todos os hinos nacionais e todas as bandeiras são marcas indeléveis da identidade e da história de seu povo. Mas, assim como a bandeira, o hino romani vem sendo fetichizado desavisadamente por pessoas de certos segmentos artísticos e religiosos populares do Brasil.

Já tive o desprazer de assistir, em vídeos na Internet, o nosso hino sendo vulgarmente dançado, com direito a muitas batidas de saia, como se fosse uma música sensual qualquer. Ora, para não falar do evidente mau gosto da sensualidade desnecessária e fora de contexto em uma canção que fala do Porajmos, acredito que qualquer pessoa com o mínimo senso de cidadania sabe que HINOS NÃO SE DANÇAM. Tente imaginar o absurdo que seria uma apresentação de, por exemplo, lambada ao som do hino nacional brasileiro.

DJELEM, DJELEM

Djem, Djelem

Clique aqui e ouça a canção na voz inigualável e inesquecível da grande intérprete rhomie Esma Redzepova, que, lamentavelmente, nos deixou em dezembro de 2016. Tavelerto.

Clique aqui e ouça o Hino Romani na voz de seu compositor, o próprio Zarco Jovanovic. Tavelerto.