A resposta mais imediata em que consigo pensar é – depende. É importante ter em mente que a palavra “cigano” é uma invenção não-cigana para designar genericamente uma série de povos muito diferentes. Em etimologia – estudo da origem e evolução das palavras – isso tem um nome: exônimo (de exo – de fora/ nomos – nome).
Para que possamos compreender melhor, pensemos em um caso mais bem conhecido, o dos índios brasileiros. A palavra índio nasceu quando as primeiras embarcações portuguesas chegaram por estas terras, supostamente a procura de uma rota alternativa para as Índias orientais. Índios, portanto, foi a palavra genérica que esses primeiros portugueses encontraram para designar uma série de povos nativo-americanos muito diferentes entre si – Guaranis, Pataxós, Caxinauás, Ianomâmis, Ticunas, etc., inicialmente (e supostamente, é claro) confundidos com indianos.
A história da palavra “cigano” não é muito diferente. Ela deriva do termo grego bizantino athígganos, que significa “intocável” e foi usada, segundo verbete do dicionário Houaiss, para referir-se a determinado grupo de heréticos da Ásia Menor que evitavam a todo custo o contato com estranhos. Quando de sua incursão na Europa Central, no início do século XV, os Rhomá foram comparados com essas pessoas. Desde então, a palavra, bem como vários outros exônimos (Gipsy, Bohemian, etc.), tem sido usada para designar uma série de povos nômades de etnias distintas – Rhomá, Ashkali, Pavee, Yenish, etc.