No dia 8 de abril de 1971, teve início, na cidade inglesa de Orpington, perto de Londres, o primeiro Congresso Mundial Romani. Por que estamos falando sobre isso? Porque foi neste evento que alguns dos mais importantes – e conhecidos – símbolos rhomá foram definidos – a nossa bandeira e o nosso hino. Então é particularmente importante, no que diz respeito a fazer com que as pessoas entendam a que se referem esses símbolos, contextualizar como, onde, porquê e em que momento isso tudo aconteceu.
No período entre guerras, movimentos rhomá começam a se organizar em diversas localidades europeias no sentido de se institucionalizar. O objetivo, naturalmente, girava em torno de questões como a proteção da cultura romani e a necessidade de dar assistência às comunidades e reivindicar direitos e cidadania. Mas foi somente após a Segunda Guerra Mundial, que, mais de setenta anos depois, deixou feridas ainda abertas na história humana, que esses movimentos deixaram definitivamente de ser locais e passaram a agregar organizações de diversas partes do mundo.
Em 1959, foi fundada, na França, a World Gypsy Community (Communauté Mondiale Gitane), pelo rhom ursari de origem romena Ionel Rotaru. Essa organização, é claro, constituía-se principalmente por rhomá franceses, mas mantinha comunicação com organizações em diversos países, como a Romênia, a Polônia, o Canadá e a Turquia. Uma das mais importantes – e controvertidas – reivindicações de Ionel Rotaru era a criação do “Romanistão”, um país rhomá. A World Gypsy Community foi oficialmente dissolvida pelo governo francês em 1965.
Neste mesmo ano, antes dela ser dissolvida, um grupo de dissidentes, liderados pelo rhom boyásh argeliano Vanko Rouda, havia se desligado da World Gypsy Community. Um pouco mais tarde, em 1967, esses dissidentes fundaram o International Gypsy Committee, também na França. Com uma abordagem mais pragmática que Rotaru, Rouda concentrava-se em questões como reparações por crimes de guerra. Ele criou uma publicação oficial, o La Voix Mondiale Tsigane, e incentivou a participação de organizações sediadas em outros países, como o The Gypsy Council, da Grã-Bretanha, e o The Nordic Roma Council, da Suécia.
Em pouco tempo, o International Gypsy Committee tornou-se uma fundação de impacto realmente internacional, chegando a representar 23 organizações, de 22 países em 1972, obtendo, além disso, o reconhecimento oficial do Conselho da Europa e da UNESCO.
Foi o International Gypsy Committee que, em 1971, organizou o primeiro Congresso Mundial Romani (World Romani Congress), que teve ninguém menos que o próprio Vanko Rouda como presidente e contou com a participação de 23 representantes de dez países – Checoslováquia, Finlândia, Noruega, França, Grã-Bretanha, Alemanha, Hungria, Irlanda, Espanha e Jugoslávia, além de expectadores da Bélgica, Canadá, Índia e Estados Unidos. Entre os expectadores estava o ilustre ator russo-americano Yul Brynner, que é, algumas vezes, mencionado equivocadamente como o presidente do Congresso.
Neste primeiro Congresso Mundial Romani foram criadas cinco subcomissões para cuidar de assuntos sociais, como educação, cultura, língua e crimes de guerra. Além disso, tomaram-se algumas decisões importantes. Foi determinada uma bandeira, uma canção pós-guerra foi escolhida como hino oficial romani e adotou-se, genericamente, a palavra rhomá (roma) em detrimento das muitas variantes de “cigano” (gypsy, gitano, zingaro, tzigano, etc.). Por causa desta última decisão do Congresso, o próprio International Gypsy Committee foi rebatizado, passando a se chamar Komiteto Lumniako Romano (International Rom Committee).
Houve, até o presente momento (2017), oito Congressos Mundiais Rhomá. Desses oito destacamos, além do primeiro, de 1971, o segundo, realizado em Genebra, na Suíça, em abril de 1978, no qual o International Gypsy Committee foi transformado na International Romani Union (União Romani Internacional), com sede em Praga, que existe até hoje. Também merece destaque o Quarto Congresso Mundial Romani, realizado em Serock, na Polônia, em 1990, em que ficou estabelecido o dia 8 de abril como o Dia Internacional dos Rhomá, em homenagem ao dia em que ocorreu a primeira reunião do primeiro Congresso Mundial Romani.