Os segredos aos quais já me referi e que, como disse, fazem parte da vida e podem torná-la mais fácil são o que chamamos, genericamente, “magia cigana”. Magia, aqui, deve ser tomada no mesmo sentido de “misticismo”, isso que ousei definir mais ou menos como uma ciência para os rhomá. Não é algo religioso. Magia, aliás, em seu sentido original, significa exatamente isso – “ciência oculta”. Antes de Newton explicar a gravidade, ela também poderia ser entendida como uma força mágica, uma sabedoria oculta, e de fato era. O próprio Newton, diga-se de passagem, além de físico, foi um proeminente ocultista.
Mas é preciso atenção a esse tipo de coisa. Já vi incontáveis anúncios de cursos que prometiam ensinar a “magia cigana”, principalmente em rádios e jornais esotéricos do Rio de Janeiro e de outras cidades. Curioso, fiz questão de procurar alguns deles, e me dei ao trabalho de adquirir e verificar as apostilas. Ainda não encontrei um que realmente ensine o que promete.
Em sua quase totalidade, o material desses cursos, algumas vezes ministrados por pessoas que se dizem ciganas, são apenas adaptações de receitas e fórmulas de culto típicas das religiões afro-brasileiras – o que não é nenhum demérito, mas completamente estranho ao universo cultural rhomá e jamais poderia ser vendido como algo tradicional. Em outros casos, felizmente mais raros, tratam-se das mais estapafúrdias invenções, de pessoas que se aproveitam de maneira oportunista e descarada da falta de conhecimento geral acerca da etnia para vender como “autêntica sabedoria cigana” coisas que nenhum cigano jamais conheceu.
Chegam às vias do absurdo ao simular “rezas”, “feitiços” e “orações” em um palavrório vendido como romani, mas que passa longe de ser romani. Nós, rhomá, quando nos deparamos com esse tipo de coisa, achamos graça ou ficamos revoltados, depende do humor; mas o público – ou deveríamos chamar de vítimas? – dessas pessoas não conhece o suficiente de romani para saber que aquilo não é romani, e acabam enganados em sua fé.
Recomendo, enfaticamente, que não se dê crédito a alguém apenas porque este alguém se diz cigano. Pode até ser que seja de fato um cigano, e isso, por si só, não é garantia de coisa alguma; afinal, ciganos são pessoas e em todos os grupos sociais há pessoas de bom e mau caráter.
Tenham senso crítico. Questionem. Pesquisem o que está sendo dito antes de adotar como verdade. Pode parecer clichê o que vou dizer agora, mas nenhum rhom ou rhomi que se preze trocaria os conhecimentos ancestrais de seu povo por qualquer quantia em dinheiro. Somos um povo de tradição oral e, como tal, valorizamos a palavra, a confiança. Mesmo tendo nascido rhom, alguém precisa ganhar a confiança dos seus mais velhos para receber alguma bagagem de conhecimento.